História do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – DESA
Antecedentes
A evolução temporal do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental está estreitamente vinculada ao próprio desenvolvimento histórico desses respectivos campos da ciência. A época da fundação da Escola Livre de Engenharia (21/05/1911), que se constituiu no embrião da atual Escola de Engenharia da UFMG (EEUFMG), coincide com o período de efetiva consolidação de conceitos, projetos e obras associados à instalação de sistemas de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos, com o objetivo de prover água de boa qualidade às populações urbanas, conjuntamente com a necessária prevenção de enfermidades de veiculação hídrica. A Teoria do Contágio, que estabelecia a base científica para a compreensão de mecanismos de transmissão de enfermidades, dentre elas as de transmissão feco-oral, estava então apenas recém consolidada. Mesmo após a aceitação internacional de experiências pioneiras conduzidas por eminentes pesquisadores (John Snow, Semmelweiss, Pasteur, Koch), era ainda restrita, em escala mundial, a implantação de sistemas completos de águas de abastecimento e de águas residuárias. É neste contexto histórico que se insere a participação dos primeiros docentes da EEUFMG no novo campo da Engenharia Sanitária. Dentre os 15 fundadores da Escola Livre de Engenharia, destaca-se a atuação do Prof. Lourenço Baeta Neves, inicialmente responsável pela cátedra de Águas e Esgotos, assumindo posteriormente a cátedra de Hidráulica em 1915. Em 1927 o Prof. Lincoln de Campos Continentino é designado como responsável pela cátedra de Higiene, Saneamento das Cidades e Urbanismo. A trajetória de vida desse destacado cientista e docente está fortemente associada à evolução histórica da área de saneamento no âmbito da EEUFMG.
Criação do IES (Instituto de Engenharia Sanitária)
Em 1955 é criado o Instituto de Engenharia Sanitária, conjuntamente com a implantação de um Curso de Especialização em Engenharia Sanitária, pioneiro no país, sendo ainda o primeiro curso de especialização oferecido pela UFMG em todas as áreas do conhecimento. O mencionado Prof. Lincoln de Campos Continentino, na qualidade de diretor do IES, foi o mentor dessa marcante iniciativa acadêmica. O Instituto de Engenharia Sanitária estava sediado no prédio na R. Bahia 52, atualmente tombado pelo patrimônio histórico e onde funciona a sede da Associação dos Ex-Alunos da EEUFMG.
A referida especialização em Engenharia Sanitária (pós-graduação lato sensu) foi criada com o apoio do Institut of Interamerican Affairs (ponto IV do acordo MEC/USAID) e do então Serviço de Saúde Pública (Fundação SESP, atualmente FUNASA), sob coordenação da Escola de Engenharia da UFMG, na época dirigida pelo Prof. Mário Werneck de Alencar Lima. A criação do Instituto de Engenharia Sanitária e do curso de especialização nessa área proporcionou um intenso desenvolvimento da Engenharia Sanitária no Estado de Minas Gerais e, por extensão, no Brasil. Contribuiu para tanto a participação de renomados professores norte-americanos, que constituíam algumas das mais importantes autoridades mundiais na área de saneamento. O próprio Prof. Continentino, nascido em 1900, havia feito um curso de Especialização na renomada Universidade de Harvard no ano de 1929, sendo então testemunha de um pulsante crescimento, naquele país, das atividades relacionadas ao campo da Engenharia Sanitária.
Dentre os professores convidados a atuar na fase inicial de criação do IES e do curso de especialização, destacam-se os nomes de Harold E. Babbit (professor emérito da Universidade de Illinois, autor do livro Water Supply Engineering) e Charles Cox (autor do livro Water Quality and Treatment). Como penhor de reconhecimento, ambos foram designados como professores honorários da EEUFMG em sessão solene da Congregação (24/04/1956).
O primeiro programa de ensino do curso, elaborado com a colaboração dos referidos professores norte-americanos, previa 388 horas de instrução e incluía quatro disciplinas: Saneamento e Urbanismo, Química Sanitária, Biologia Sanitária e Tratamento de Água e Esgotos. A partir do segundo ano de oferecimento do curso, especialistas formados no ano anterior passam a assumir a docência, em vista da interrupção da participação dos colaboradores norte-americanos.
Destaca-se, como curiosidade, que, durante alguns anos, a intensa procura do curso por profissionais atuantes no mercado de trabalho levou à implantação de uma grade horária com aulas no inusitado período de 19:00 a 23:50 h. No ano de 1956 a carga horária elevou-se para 520, em 1958 para 640 e em 1961 para 840 horas, reflexo da crescente demanda por conhecimentos em novos setores do saneamento. A partir deste último ano ocorre uma gradativa redução da carga letiva do curso, tendo em vista a adequação da real disponibilidade dos profissionais a um currículo otimizado de oferta de disciplinas associadas ao tema. Em 1987 a crescente pressão pela incorporação de novas subáreas do saneamento na estrutura curricular do curso levou ao retorno da carga didática de 840 horas, reduzida, no espaço de alguns anos, a 480 horas. Em 1998 o curso de especialização passou a ser oferecido em duas áreas de concentração: Engenharia Sanitária e Meio Ambiente, ajustando-se a uma clara demanda de formação de profissionais nesse campo. Novos ajustes, de menor monta, foram conduzidos sucessivamente na configuração das disciplinas e no nome das áreas de concentração. Em 2010, a especialização teve sua denominação alterada para Especialização em Saneamento e Meio Ambiente, em vista da criação de cursos de graduação em Engenharia Ambiental e Engenharia Sanitária no País, e foi oferecida, até 2012, em dois módulos: Controle Ambiental na Indústria (390 horas) e Tratamento de Águas de Abastecimento e Residuárias (375 horas). A partir de 2013 o oferecimento do curso de especialização foi suspenso.
Em seus 57 anos de existência e de formação ininterrupta de alunos, o curso de Especialização passou por muitas transformações. As frequentes alterações na estrutura curricular foram resultado da necessidade de adaptá-lo às exigências da comunidade de profissionais interessados nesse tema de crescente relevância. A trajetória da iniciativa coincide com a fase de grande desenvolvimento de obras sanitárias no Brasil, com a evolução da técnica e com a necessidade da busca de soluções alternativas para os problemas nacionais. A constante interação com parceiros fora dos muros da escola é representada pela grande quantidade de atividades de extensão desenvolvidas pelos docentes, seja em empresas públicas ou na iniciativa privada. Exemplo desta parceria é manifestado pelo fato de que a seção mineira da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, cuja primeira presidência foi exercida pelo Prof. Lincoln Continentino, esteve durante muitos anos sediada nas próprias dependências do DESA.
Criação do DESA
A criação do então Departamento de Engenharia Sanitária ocorreu em 07/04/1970, por ocasião da 721ª sessão da Congregação da EEUFMG, presidida pelo diretor Prof. Cássio Mendonça Pinto. Sob o aspecto formal, houve o desmembramento do Departamento de Hidráulica e Saneamento em dois departamentos: Departamento de Engenharia Hidráulica e Departamento de Engenharia Sanitária. Dentre as considerações emanadas para justificar este ato administrativo, foram lembrados o próprio espírito da reforma universitária, em curso naquela ocasião, a amplitude e diversificação de conhecimentos nos campos afins da Hidráulica e do Saneamento e as atividades específicas exercidas pelo Centro de Engenharia Sanitária, antigo Instituto de Engenharia Sanitária, na época chefiado pelo Prof. Honório Pereira Botelho. Este docente foi eleito, em 25/05/70, como o primeiro chefe do novo Departamento
Evolução histórica do DESA
Em março/1972 tem início o curso de Mestrado em Engenharia Sanitária, acompanhando-se a tendência nacional de implantação de cursos de pós-graduação stricto sensu. Em 1976 ocorre a mudança das instalações do departamento para o novo prédio da Av. Contorno 842, 7º andar. No mês de junho/90 é feita uma alteração no nome do departamento, que passa a se denominar de Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental. Os principais motivos que conduziram a essa decisão foram a necessidade de se ocupar um espaço que, conceitualmente, pertencia ao departamento e a própria consideração da realidade do mercado de trabalho na época. Em 1998 assume a diretoria da EEUFMG o Prof. Léo Heller (período de 29/06/98 a 28/06/02), sendo, até o momento, o único membro do DESA a atuar neste cargo. Em junho/1999 é aprovada a criação do Doutorado em Saneamento e Meio Ambiente e Recursos Hídricos, com base em amplo projeto coordenado pelo Prof. Marcos von Sperling. Em dezembro/2006 é aprovada a criação do curso de graduação em Engenharia Ambiental, fruto de projeto com intensa participação de diversos docentes do DESA e também coordenado pelo Prof. Marcos von Sperling. O início das atividades letivas desse novo curso deu-se em 2009. No final de 2009 ocorre a mudança do departamento para o campus da Pampulha. Inicia-se então uma nova etapa na história do departamento, em que modernas instalações propiciam o adequado desempenho do rol de atividades associadas ao ensino, pesquisa e extensão, consolidando-se o relevante papel exercido pelo DESA nos campos da Engenharia Sanitária e Ambiental.
Panorama atual do DESA
Atualmente o departamento conta com 19 docentes e com 6 funcionários, além da frequente inserção de pós-doutores, pesquisadores visitantes, bolsistas de graduação e de pós-graduação.
Além das atividades de ensino, inerentes à própria missão de um departamento acadêmico, o DESA atua de forma intensa em projetos de pesquisa nas áreas afins (saneamento e meio ambiente), e na extensão, para entidades públicas e privadas.
Os laboratórios do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA) têm como missão apoiar o departamento nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Rotineiramente seus trabalhos visam atender demandas de diferentes projetos de pesquisa e extensão, bem como preparar aulas práticas para os cursos de graduação e pós-graduação.
O conjunto de laboratórios do DESA está atualmente capacitado para realizar todos os principais tipos de análises relativas a ensino e pesquisa nas áreas de saneamento e meio ambiente. Os laboratórios estão em contínua expansão através da aquisição de equipamentos financiados por diversos programas e órgãos, tais como REUNI, GTZ, CNPq, CAPES, FINEP e FAPEMIG, além de projetos junto a iniciativa privada.
No contexto da evolução histórica do departamento, muito se deve à abnegada atuação de destacados docentes e funcionários. O preito de justa gratidão àqueles que granjearam conhecimento e dedicação, dentro do mais legítimo espírito universitário, está representado nas várias homenagens ocorridas em momentos festivos ao longo da história do departamento, consolidadas principalmente pela designação de diversas salas, anfiteatros, auditórios e laboratórios com o saudoso nome de colegas que construíram com empenho e competência a trajetória do DESA.
Chefes do DESA
Na fase inicial de criação e consolidação do DESA, era comum a eleição de professores que assumiam a chefia por longos períodos de tempo. Conforme mostrado na Tabela 1, constata-se que 4 docentes (José Marcelino de Oliveira, Honório Pereira Botelho, Danilo Francisco Ambrósio e João Claret Orsini Teixeira) foram responsáveis por cargos de chefia durante um período de aproximadamente 16 anos. Cabe lembrar que, até 1982, a eleição para este cargo administrativo era feita com base em lista tríplice enviada à Diretoria da EEUFMG, a qual indicava o docente selecionado.
Tabela 1. Relação dos professores que exerceram a chefia do DESA
No. | Nome | Período | |
---|---|---|---|
Início | Término | ||
1 | Honório Pereira Botelho | mai/70 | jun/74 |
2 | Hélio Lopes | jun/74 | dez/74 |
3 | José Marcelino de Oliveira | dez/74 | mar/80 |
4 | Marcos Costa Câmara | mar/80 | dez/81 |
5 | Danilo Francisco Ambrósio | dez/81 | mai/82 |
6 | João Claret Orsini Teixeira | mai/82 | set/82 |
7 | Danilo Francisco Ambrósio | set/82 | mar/87 |
8 | João Claret Orsini Teixeira | mar/87 | jun/90 |
9 | Honório Pereira Botelho | jun/90 | abr/92 |
10 | Ysnard Machado Ennes | abr/92 | ago/92 |
11 | Carlos Augusto de Lemos Chernicharo | ago/92 | out/94 |
12 | Marcos von Sperling | out/94 | fev/95 |
13 | Léo Heller | fev/95 | ago/95 |
14 | Marcos von Sperling | ago/95 | out/95 |
15 | Celso de Oliveira Loureiro | out/95 | out/97 |
16 | Gilberto Caldeira Bandeira de Melo | out/97 | dez/99 |
17 | Wilfrid Keller | dez/99 | fev/00 |
18 | Eduardo Delano Leite Ribeiro | fev/00 | abr/04 |
19 | Eduardo von Sperling | abr/04 | jun/06 |
20 | Valter Lúcio de Pádua | jun/06 | mai/08 |
21 | Liséte Celina Lange | jun/08 | jun/10 |
22 | Carlos Augusto de Lemos Chernicharo | jun/10 | mai/12 |
23 | Prof. Valter Lúcio de Pádua | jun/12 | mai/14 |
24 | Prof. Raphael Tobias de Vasconcelos Barros | jun/14 | set/18 |
25 | Prof. Gustavo Ferreira Simões | out/18 | out/20 |
Considerações finais
Conforme pode se observar, o DESA exibe uma trajetória muito marcante, sendo notável seu papel singular na formação de engenheiros sanitaristas e ambientais para o estado de Minas Gerais e para o Brasil e na sua liderança na pesquisa na área, tanto na produção de conhecimento avançado, quanto na sua pioneira função de formação de mestre e doutores.
Novos horizontes esperam o futuro do Departamento, que vem expandindo sua área de atuação no ensino, com a criação do curso de Engenharia Ambiental, e com a expansão do corpo docente. O desafio que o espera é o de continuar atuando à altura de sua tradição histórica, abrindo-se para os novos campos ditados pelas tendências técnico-científicas nas áreas de saneamento e meio ambiente.